“Preparar para o combate”!
Barroso remete-nos aos feitos pretéritos da Instituição e ecoa em alerta para o contexto geopolítico contemporâneo. Panorama marcado por agravo do senso de cooperação, resulta em túrgidos orçamentos de defesa, recrudescência de hostilidades e intenso rearmamento.
Persiste, no entanto, equivocada concepção de que o Brasil, com índole pacífica e por dispor de fronteiras terrestres bem estabelecidas, estaria imune a ameaças externas. Tal percepção configura erro crasso e evidencia preocupante fragilidade na compreensão dos assuntos de defesa.
À luz da inexorável evolução político-estratégica, inclinações nacionais transmutam- se de maneira ininterrupta. Não obstante, os espaços marítimos apresentam-se regidos por lógica anárquica, desprovido de barreiras físicas e permeado por crescente aspiração.
Negligenciar riscos, para além de denotar visão míope, compromete a capacidade de antever-se às agressões iminentes ao território. A guerra, quando irrompe no horizonte, impõe-se com crueza, premiando aqueles que, ancorados nas lições do passado, cultivam, com diligência, a prontidão permanente e transformam memória em instrumento de preservação da soberania e prosperidade para a Nação.
Os espaços marítimos e fluviais sob responsabilidade do Estado brasileiro constituem alicerce da economia nacional. Expressiva parcela da produção de petróleo e gás natural em campos offshore, predominância do transporte marítimo no comércio exterior e crescente utilização das vias interiores, atestam a dependência estratégica do País em relação às suas
águas.
Lançar visão sobre o emprego da Marinha de outrora aguça o imperativo de investimentos que permitam o Brasil contar, a qualquer tempo, com Força Naval estruturada sob condições de permanente eficiência operacional, que permitam o adequado e pronto emprego para a defesa da Pátria.
Hoje, Dia da Marinha, agrado para a Instituição tomar parte das comemorações do centésimo sexagésimo aniversário da Batalha Naval do Riachuelo. Nesta Sessão Magna, evocar legado de “Heróis Marinheiros” que responderam com destemor e amansaram as adversidades do combate, em 11 de junho de 1865, transcende formalidade; constitui, sobretudo, circunstância legítima de perpetuar o espírito aguerrido daqueles que tombaram em defesa dos interesses do País.
Momento oportuno para destacar que, após o combate no Rio Paraná, não tardou para que a Força Naval fosse impelida ao crivo severo de conflito com proporções globais. Na Segunda Guerra Mundial, diante de ameaça furtiva sob as águas do Atlântico Sul, a
Esquadra Brasileira protagonizou campanha silenciosa, porém decisiva, em defesa das Linhas de Comunicação Marítima, à custa de 1.456 vidas. Legado forjado sob o rigor de altruísmo e disciplina, marca a história da Nação, no transcurso da celebração dos 80 anos da VITÓRIA.
A resoluta intrepidez, inerente ao ethos que define os Homens do Mar, não concerne ao passado; interpela o presente; e adverte: o tempo que se descortina poderá, a qualquer momento, impor ao povo brasileiro o mesmo grau de altivez moral e preparo face aos imperativos da guerra.
Sob tal perspectiva, a Força Naval empreende diligentes esforços para manutenção de Programas Estratégicos dotados de tecnologias que transpassam a fronteira do conhecimento e de poderio bélico adequado à estatura do Estado. De forma simultânea, dedica-se à contínua formação e capacitação do seu “Pessoal”, cujo valor, revela-se elemento imprescindível no paroxismo do combate.
Ensejo para sublinhar as palavras do Almirante de Esquadra CLAUDIO HENRIQUE MELLO DE ALMEIDA, ao reafirmar a relevância do Clube Naval: legítimo foro de reflexão; preservação da memória; e difusão dos valores que alicerçam a atuação da Instituição. Ao rememorar Riachuelo, evocou a Força de outrora e atual em específicos ambientes operacionais, que consagraram a Marinha como protagonista inequívoca na construção do Estado Brasileiro.
Distinta ocasião, manifesto reconhecimento à preclaro “Marinheiro”, detentor de ilibados predicados, o Almirante de Esquadra JOÃO AFONSO PRADO MAIA DE FARIA. Profícuo labor, marcado por visão estratégica e senso de dever, ressoou inalterados ideais
que, outrora, moveram o espírito altaneiro do então Almirante Saldanha da Gama, ao fundar, em 1884, respeitável Instituição. Rogo a Nossa Senhora dos Navegantes que lhe abençoe, diante dos mares que ora se descortinam no horizonte. BRAVO ZULU!
Momento de transição, auguro votos de pleno êxito à tripulação da Chapa “Bons Ventos”, sob o comando do Almirante de Esquadra (Fuzileiro Naval) ALEXANDRE JOSÉ BARRETO DE MATTOS, que assume o timão desta “embarcação”, no biênio 2025-2027. Que não lhe faltem sabedoria para os desafios, firmeza nos propósitos e serenidade nas decisões, pautadas na coesão e patriotismo que permeiam os salões deste sodalício.
A Marinha do Brasil, fiel às tradições que a unem ao Clube, desde a fundação, renova ânimo em manter estreita colaboração, oferecendo apoio irrestrito às iniciativas que preservem a memória, valores e interesses das atividades relacionadas às “Coisas do Mar”. Por derradeiro, que a efeméride hoje celebrada, símbolo da vitória conquistada pelo sangue e determinação, sirva não apenas de reverência ao passado, mas exortação à vigilância no presente e ao preparo para o porvir, “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”.
Tudo pela Pátria e pela “Invicta Marinha de Tamandaré”!
MARCOS SAMPAIO OLSEN
Almirante de Esquadra
Comandante da Marinha